Pular para o conteúdo principal

Preso federal custa 5 salários ao mês, dobro do que se gasta com preso estadual


Brasil
- O governo federal gasta atualmente R$ 3.472,22 por cada preso nas quatro unidades geridas pela União em todo País. O valor é equivalente a quase cinco salários mínimos, atualmente de R$ 724. O custo equivale a duas vezes a média per capita de R$ 1.800 mensais dos cinco Estados com as maiores populações carcerárias do País – juntos, eles representam mais de 60% dos presos.
Criados para abrigar presos de alta periculosidade, incluindo lideranças de facções criminosas e grandes traficantes de drogas, os presídios federais têm atualmente cerca de 600 detentos - um deles chegou recentemente. O traficante e líder da facção Amigos dos Amigos, Celsinho da Vila Vintém, do Rio de Janeiro, foi transferido para a unidade de Catanduvas, no Paraná, a pedido do governo estadual no mês passado.
O custo, diz o Ministério da Justiça, se justifica porque as unidades de Catanduvas (PR), Campo Grande (MS), Mossoró (RN) e Porto Velho (RO) têm sistemas de vigilância com detectores de metais, sensores por aproximação, coletas de impressão digitais e encarceramento individual do preso durante 22 horas por dia. Além disso, ao contrário da maior parte dos presídios do País, os condenados usam uniformes e não há superlotação.
Para o jurista e diretor-presidente do Instituto Avante Brasil, Luiz Flávio Gomes, só essas diferenças já justificariam o custo, mas ele ainda inclui o salário dos agentes prisionais federais com um fator para o aumento.
“O presídio federal tem melhor estrutura e paga melhor seus funcionários. Os agentes ganham muito mais nos federais, cerca R$ 5 mil a R$ 7 mil. Além da estrutura não há superlotação, o que aumenta ainda mais o custo. Os detentos têm ainda assistência médica, odontológica e jurídica. Esse deveria ser o modelo para todos os Estados, mas não há dinheiro para construir presídios assim”, diz Gomes.
O Brasil tem 548.003 presos, segundo dados do Departamento Penitenciário Nacional (Depen) de dezembro de 2012 (último dado disponível). Um contingente que está distribuído nos quatro modelos de administração (estadual, federal, privada e associações com ONGs) e que soma quase o dobro da população que o sistema está estruturado para receber: 300 mil.
Para especialistas, essa superpopulação – em parte gerada por prisões que não seriam necessárias – e as altas taxas de reincidência do sistema ajudam a explicar o montante que custa o sistema penitenciário no País.
“Todo esse dinheiro é gasto, mas não diminuiu a criminalidade porque o estado prende muita gente que não é violenta e não deveria estar lá. Os presídios geram muito mais crimes e deveriam existir apenas para os criminosos violentos. O dinheiro deveria ser investido no sistema educacional. Isso, sim, diminuiria a criminalidade”, diz Gomes.
Para o coordenador do Núcleo de Estudos Sociopolíticos da PUC Minas (NESP) e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Robson Sávio Reis Souza, a reincidência e a falta de políticas para combater o fenômeno geram ainda mais custos para sistema prisional brasileiro.
“Todos os custos poderiam ser relativizados se não houvesse tanta reincidência. Pesquisas e experiências empíricas mostram que algo em torno de 80% dos egressos voltam para a prisão. O problema não é gastar muito. Se o sistema cumprisse a função de ressocialização, esses valores seriam viáveis. No entanto, nesse cenário, qualquer valor investido, grande ou pequeno, é desperdício. É como ter escola para as pessoas não serem alfabetizadas e hospitais para continuarem doentes”, comparou.

Estados - No levantamento que o iG fez nos cinco Estados brasileiros com as maiores populações carcerárias - São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Paraná e Rio Grande do Sul, o custo do preso varia entre R$ 1,6 mil e R$ 2 mil.
Com números mais atualizados, a Secretaria de Administração Penitenciária do Estado de São Paulo (SP) informou que tinha até o dia 18 deste mês 215.336 presos em suas unidades. O custo de cada um deles é R$ 1,4 mil.
No Rio de Janeiro, são 37.937 presos, ao custo mensal de R$ 2.238 cada um. O Estado do Paraná tem 29.572 detentos sob custódia e cada um deles custa em média R$ 2.500. No Rio Grande do Sul, são 28.923 detentos. O Estado gasta R$ 1,3 mil por mês com cada um deles. Os gastos incluem itens como, alimentação, água, luz e salários de servidores.
Com a segunda maior população carcerária do país, o Estado de Minas Gerais gasta R$ 2 mil por cada um de seus 60.600 detentos nos presídios estaduais. É em Minas que estão localizados, também, os três presídios privados do País, que abrigam 1.508 condenados. Nesse sistema, o custo mensal máximo do preso é de R$ 2,7 mil.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A Origem Do Vidro

A origem do vidro é incerta. Apesar de ser uma das descobertas mais surpreendentes da humanidade, a sua história perde-se nos tempos e está envolta em mistérios. Não existem dados históricos precisos sobre a sua origem, mas sabe-se que foram descobertos objecto de vidro nas necrópoles egípcias, pelo que se supõe que o vidro já seria conhecido cerca de 4000 anos antes de Cristo. Alguns historiadores referem os navegadores fenícios como tendo sido os percursores da produção do vidro. A sua descoberta teria sido, como em muitas outras descobertas, completamente casual: ao prepararem as suas refeições, numa praia algures nas costas da Síria, fizeram uma fogueira e improvisaram “fogões” utilizando blocos de salitre e soda. Naturalmente que passado algum tempo começaram a notar que do fogo escorria uma substância brilhante que rapidamente ficava sólida. Poderá assim, ter sido este o momento da descoberta do vidro, o qual, após o grande desenvolvimento que o Império Romano lhe deu, c...

Richa tem 43% das intenções de votos, e Requião, 26%, mostra o Ibope

Eleições - Atual governador do Paraná e candidato à reeleição, Beto Richa (PSDB) aparece na liderança da disputa eleitoral em pesquisa divulgada ontem pelo Ibope. O tucano tem 43% das intenções de voto no levantamento. Em segundo lugar, com 26%, está o ex-governador Roberto Requião (PMDB).  Gleisi Hoffmann (PT), ex-ministra da Casa Civil do governo Dilma, aparece em terceiro lugar, com 14%.  A margem de erro da pesquisa, encomendada pela RPC TV, afiliada da Globo, é de três pontos percentuais, para mais ou para menos. Foram entrevistadas 1.008 pessoas entre os dias 21 e 23 de agosto, em 59 municípios.  Em quarto lugar, está Túlio Bandeira (PTC), com 1% das intenções. Os candidatos Bernardo Pilotto (PSOL), Geonísio Marinho (PRTB), Ogier Buchi (PRP) e Rodrigo Tomazini (PSTU) não chegam a 1%.  Brancos e nulos somam 8%. Indecisos, 7%.  Ainda de acordo com o levantamento, Requião é o candidato com maior rejeição: 30% dos eleitores declararam que não votar...

Aécio defende coerência e reforça necessidade de força política

Eleições - O candidato à Presidência da República, senador Aécio Neves (PSDB), usou nessa sábado seu programa eleitoral para chamar o eleitor a comparar seu trabalho especialmente com o da ex-senadora Marina Silva (PSB), com quem disputa vaga em um eventual segundo turno das eleições. Segundo o tucano, já ficou claro que o governo da presidente Dilma Rousseff (PT) deu errado e que o brasileiro quer mudança, mas o presidenciável disse aos insatisfeitos que “não basta tirar o PT” do poder. “Para governar, para fazer acontecer, é preciso ter uma equipe sólida, ideias já testadas, e principalmente força política para fazer a mudança acontecer de verdade”, afirmou. Aécio citou nominalmente Marina e disse acreditar nas boas intenções da adversária, mas disse ter certeza de que o brasileiro quer uma “mudança sem risco”, para fazer tudo o que Dilma não fez. “Ninguém quer errar de novo.” O senador reforçou que “sem experiência, sem força política, o sistema engole as boas intenções”. Em tel...